Confira artigo de Paulo Coimbra (nosso sócio fundador e embaixador certificado do Instituto Capitalismo Consciente Brasil) para a coluna do Capitalismo Consciente no Diário do Comércio. Nele, Paulo discorre sobre “As novas linhas do balanço” e cita o perceptível esforço para gerar visibilidade às práticas de governança, sustentabilidade e meio ambiente, acompanhado da educação dos consumidores.


Uma das características do mundo atual é a existência de imensas quantidades de capital ávido por oportunidades de investimento. Nessa busca, nos habituamos a uma análise bastante simplória das empresas, mantendo foco quase exclusivo na geração de caixa. Trata-se de uma visão obtusa – não raro, cegueira deliberada – disseminada e, lamente-se, dominante nas assembleias de acionistas e nas lideranças de um sem-número de empresas que estão perdendo o bonde da história.

Muito embora o capitalismo seja responsável pela avassaladora maioria das inovações que impactaram a qualidade de vida da humanidade, boas taxas de retorno aos investidores não são garantia de uma sociedade melhor e mais justa. Pelo contrário, observa-se que altas taxas de retorno têm contribuído para um progressivo aumento da desigualdade, que passa a ser uma fonte de graves desafios.

De fato, mesmo países que se tornaram ícones da eficiência e crescimento econômicos enfrentam severos problemas. Os EUA, por exemplo, há décadas ocupam lugar de destaque dentre as principais economias do mundo e, nem por isso, deixam de padecer de agudas dificuldades sociais tais como violência, criminalidade, conflitos étnicos, obesidade et caterva. Em outro extremo, geográfico e ideológico, a China, cuja economia nas últimas décadas registra as maiores taxas de crescimento do planeta, não conseguiu tornar dignas as condições de trabalho de seus cidadãos, tampouco mitigar os problemas decorrentes da poluição exacerbada.

Em interessante estudo, Richard Wilkinson e Kate Pickett (The Spirit Level, 2009) constatam que a pujança econômica de um determinado país não se faz necessariamente refletir na qualidade de vida de seus cidadãos. Na verdade, pesquisas indicam haver uma relação direta entre concentração da renda e problemas sociais: quanto maior a desigualdade, maiores os desafios sociais.

Enganam-se aqueles que pensam ser apenas as classes menos favorecidas impactadas pela desigualdade. Não obstante haver pessoas mais vulneráveis, a desigualdade afeta todos, inclusive os mais ricos. Como demonstram os citados autores, a má distribuição da renda contribui para agravar – ou provocar – problemas de saúde, violência, desconfiança, insegurança (não apenas física, mas também jurídica) e ambientais.

É evidente que a geração de riquezas e o crescimento econômico são necessários para a melhoria do bem-estar social. Contudo, não são suficientes. Pode parecer paradoxal, mas o sucesso econômico que resulta acentuados graus de desigualdade é fonte de graves desafios.

Historicamente, desigualdades agudas não são sustentáveis, porquanto acabam culminando em revoluções, guerras ou no acentuado aumento de tributos. Nenhum desses resultados é desejável. Nem mesmo o mais ameno deles, pois, a par de inibir investimentos, salvo raros casos de masoquismo cívico, pessoas normais não gostam de pagar mais impostos, mormente quando a qualidade dos serviços e dos gastos públicos é insatisfatória.

Nas sociedades mais igualitárias, os cidadãos possuem um nível de confiança recíproca mais elevado. Ainda que tenham uma performance econômica mais modesta, apresentam melhores condições de vida para uma parcela muito mais expressiva de sua população, como se pode observar nos países escandinavos.

A lamentável dissociação entre prosperidade econômica e bem-estar social aponta para a necessidade de mudanças. Felizmente, já se pode perceber nítida transformação na forma de consumir, investir e de fazer negócios, primando-se pela geração de valor não apenas para o acionista, mas para os mais diversos stakeholders e à sociedade em geral. Inserido em um movimento de busca de maior consciência das externalidades das empresas, surge a cultura ESG direcionada a uma nova ética no consumo, investimentos e negócios.

Com alegria percebe-se que o esforço para gerar visibilidade às práticas de governança, sustentabilidade e meio ambiente, acompanhado da educação dos consumidores, tende a estimular que estes votem com suas compras e, assim, impactem o mundo dos negócios. Seja mediante tradicionais e antiquadas cédulas, cartão ou Pix, os consumidores mais conscientes já percebem seu papel, poder e responsabilidade na evolução do capitalismo.

Novos indicadores, análises, rankings e certificações surgem e se consolidam a cada dia. Novos critérios para identificação de valor exsurgem. Abrem-se oportunidades e alternativas à obtusa análise de balanços focada exclusivamente na “última linha”. Resultados econômicos e financeiros deixam de ser a “única linha” e tornam-se uma das diversas “linhas” a serem analisadas nas tomadas de decisão para investimentos e para o consumo.

Mais do que esperança, gozamos da certeza de que as empresas que se consolidarem na liderança de resultados sociais, governança, transparência e sustentabilidade – além do desempenho econômico-financeiro – serão dignas não apenas de merecido destaque nas mídias especializadas e premiações institucionais, mas, muito além, serão alvo de abundante afluxo intencional de recursos financeiros e humanos que as tornem ainda mais atraentes, prósperas e benfazejas.

Educação que gera consciência: não é um caminho curto para uma sociedade melhor, mas certamente o mais seguro e consistente.

 

Fonte: www.diariodocomercio.com.br/negocios/novas-linhas-no-balanco/