{"id":14411,"date":"2021-10-20T17:15:08","date_gmt":"2021-10-20T20:15:08","guid":{"rendered":"https:\/\/coimbrachaves.com.br\/?p=14411"},"modified":"2021-10-20T18:40:54","modified_gmt":"2021-10-20T21:40:54","slug":"stf-julga-norma-sobre-planejamento-tributario","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/coimbrachaves.com.br\/stf-julga-norma-sobre-planejamento-tributario\/","title":{"rendered":"STF julga norma\u00a0sobre planejamento tribut\u00e1rio\u00a0"},"content":{"rendered":"

Foi\u00a0iniciado em\u00a015\/10\/2021,\u00a0o julgamento da\u00a0<\/span>A\u00e7\u00e3o\u00a0Direta\u00a0de Inconstitucionalidade n\u00ba 2446<\/span><\/a>\u00a0pelo Plen\u00e1rio do STF.\u00a0Por meio dessa ADI foi questionada a constitucionalidade do par\u00e1grafo \u00fanico do art. 116 do\u00a0CTN, tamb\u00e9m conhecida como \u201cnorma geral\u00a0antielisiva\u201d. A a\u00e7\u00e3o foi movida pela Confedera\u00e7\u00e3o Nacional do Com\u00e9rcio de Bens, Servi\u00e7os e Turismo (CNC),\u00a0que\u00a0argumentou\u00a0que a inclus\u00e3o do\u00a0referido par\u00e1grafo no art. 116\u00a0viola\u00a0a Constitui\u00e7\u00e3o\u00a0por permitir que o Fisco desconsidere atos\u00a0de acordo com o seu pr\u00f3prio entendimento, em detrimento do direito\u00a0de livre\u00a0planejamento\u00a0e organiza\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica\u00a0dos contribuintes.\u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

At\u00e9\u00a0o fechamento dessa edi\u00e7\u00e3o, em 20\/10, prevalece\u00a0o entendimento da Min.\u00a0C\u00e1rmen\u00a0L\u00facia, pela constitucionalidade do dispositivo.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

Em 2001, foi aprovada\u00a0pelo Congresso\u00a0a\u00a0<\/span>Lei Complementar n\u00ba 104<\/span><\/a>,\u00a0que\u00a0promoveu mudan\u00e7as no sistema tribut\u00e1rio nacional.\u00a0Uma das principais medidas, conforme se aduz do\u00a0<\/span>Projeto de\u00a0Lei\u00a0Complementar n\u00ba 77<\/span><\/a>\u00a0do Minist\u00e9rio da Fazenda,\u00a0era a cria\u00e7\u00e3o de um mecanismo de combate \u00e0 elis\u00e3o fiscal. A solu\u00e7\u00e3o adotada foi a cria\u00e7\u00e3o de uma norma de car\u00e1ter geral que autorizasse\u00a0os entes tributantes\u00a0a\u00a0legislarem\u00a0sobre\u00a0os procedimentos pelos quais as autoridades administrativas poderiam \u201cdesconsiderar atos ou neg\u00f3cios jur\u00eddicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorr\u00eancia do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obriga\u00e7\u00e3o tribut\u00e1ria\u201d.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

Nenhuma norma em car\u00e1ter federal\u00a0foi consolidada a partir\u00a0do\u00a0art. 116, par\u00e1grafo \u00fanico do CTN. Embora\u00a0esse tema\u00a0tenha\u00a0sido tratado pelas\u00a0Medidas\u00a0Provis\u00f3rias n\u00ba 66\/2002 e n\u00ba 685\/2015, os\u00a0dispositivos foram retirados quando\u00a0da\u00a0convers\u00e3o dessas MPs\u00a0nas\u00a0Leis\u00a0n\u00ba\u00a0<\/span>10.637\/2002<\/span><\/a>\u00a0e\u00a0<\/span>13.202\/2015<\/span><\/a>, respectivamente.\u00a0A\u00a0quest\u00e3o permaneceu em aberto por v\u00e1rios anos e gerou\u00a0uma situa\u00e7\u00e3o de desconfian\u00e7a entre Fisco e os contribuintes. Por um lado, a norma era favor\u00e1vel \u00e0s autoridades, pois lhes\u00a0dava fundamento para desconsiderar atos que julgassem\u00a0como\u00a0fraudulentos\u00a0ou\u00a0calcados\u00a0em\u00a0simula\u00e7\u00e3o ou dissimula\u00e7\u00e3o. Todavia,\u00a0no entendimento dos contribuintes,\u00a0o art. 166, par\u00e1grafo \u00fanico, do CTN\u00a0d\u00e1 poderes\u00a0extremamente\u00a0amplos\u00a0ao Fisco\u00a0para compelir os contribuintes ao\u00a0pagamento\u00a0m\u00e1ximo\u00a0de tributo\u00a0e coagi-los a n\u00e3o realizar qualquer tipo de\u00a0planejamento\u00a0tribut\u00e1rio.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

No\u00a0caso\u00a0que est\u00e1 sendo julgado pelo STF, a CNC alegou que a norma viola os princ\u00edpios da legalidade, da tipicidade e da separa\u00e7\u00e3o de poderes.\u00a0Argumentou que\u00a0esse dispositivo\u00a0permitiria \u00e0 autoridade fiscal tributar \u201cfato gerador n\u00e3o ocorrido e previsto em lei\u201d, al\u00e9m de introduzir a \u201cinterpreta\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica\u201d no direito tribut\u00e1rio brasileiro \u201censejando tributa\u00e7\u00e3o por\u00a0analogia\u201d.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

Na vis\u00e3o da\u00a0ministra\u00a0C\u00e1rmen\u00a0L\u00facia, que assumiu a relatoria ap\u00f3s a aposentadoria da\u00a0ministra\u00a0Ellen Gracie, a norma\u00a0\u00e9\u00a0constitucional, pois seu\u00a0fim \u00e9 o combate \u00e0 evas\u00e3o e n\u00e3o \u00e0 elis\u00e3o. Em seu voto, ponderou que n\u00e3o seria inconstitucional\u00a0a delega\u00e7\u00e3o de poder\u00a0\u00e0\u00a0autoridade administrativa\u00a0para\u00a0desconsiderar atos dissimulat\u00f3rios. Isso porque\u00a0a obriga\u00e7\u00e3o de pagar tributo decorre\u00a0da previs\u00e3o em lei e\u00a0da ocorr\u00eancia de fato gerador.\u00a0Portanto, no entendimento da ministra, o\u00a0reconhecimento da pr\u00e1tica de atos il\u00edcitos\u00a0pelos contribuintes, para\u00a0se esquivar do cumprimento da obriga\u00e7\u00e3o tribut\u00e1ria, n\u00e3o\u00a0representa\u00a0arb\u00edtrio do Fisco, mas t\u00e3o somente reconhecimento do tributo devido. Por isso, n\u00e3o viola\u00a0os\u00a0princ\u00edpios\u00a0da legalidade, da tipicidade e da separa\u00e7\u00e3o de poderes.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

Apesar disso, a ministra\u00a0C\u00e1rmen\u00a0L\u00facia\u00a0reconheceu que\u00a0a\u00a0plena efic\u00e1cia da norma depende de lei ordin\u00e1ria para estabelecer\u00a0procedimentos a serem seguidos.\u00a0Afirmou, ainda, que \u201ca\u00a0norma n\u00e3o pro\u00edbe o contribuinte de buscar, pelas vias leg\u00edtimas\u00a0e comportamentos coerentes com a ordem jur\u00eddica, economia fiscal,\u00a0realizando suas atividades de forma menos onerosa, e, assim, deixando de\u00a0pagar tributos quando n\u00e3o configurado fato gerador cuja ocorr\u00eancia tenha\u00a0sido licitamente evitada\u201d.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

O\u00a0ministro Ricardo\u00a0Lewandowski, por sua vez,\u00a0proferiu voto pela\u00a0inconstitucionalidade do art. 116, par\u00e1grafo \u00fanico, do CTN. Entendeu que\u00a0a desconsidera\u00e7\u00e3o dos atos praticados pelos contribuintes \u00e9 \u201cuma medida\u00a0extrema e de gravosas consequ\u00eancias\u201d.\u00a0Por essa raz\u00e3o, afirma\u00a0somente o Poder Judici\u00e1rio tem compet\u00eancia para tanto, nos termos do art. 168 do C\u00f3digo Civil, que\u00a0considera como simulados\u00a0os neg\u00f3cios jur\u00eddicos\u00a0que\u00a0(i) aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas \u00e0s quais realmente se conferem, ou transmitem; (ii) contiverem declara\u00e7\u00e3o, confiss\u00e3o, condi\u00e7\u00e3o ou cl\u00e1usula n\u00e3o verdadeira; e (iii) os instrumentos particulares forem antedatados, ou\u00a0p\u00f3s\u00a0datados.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

O ministro\u00a0justificou\u00a0o seu voto na compreens\u00e3o\u00a0segundo a qual\u00a0os\u00a0direitos fundamentais\u00a0(entre os quais est\u00e1 inclu\u00edda\u00a0a propriedade)\u00a0precisam ser preservados ao m\u00e1ximo, reservando-se ao Judici\u00e1rio a compet\u00eancia de limitar ou obstar a sua frui\u00e7\u00e3o,\u00a0especialmente em car\u00e1ter definitivo.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

At\u00e9 o momento, os ministros\u00a0Marco Aur\u00e9lio, Edson Fachin, Gilmar Mendes\u00a0e Luiz Fux\u00a0acompanharam a relatora\u00a0pela constitucionalidade do dispositivo.\u00a0O ministro Alexandre de Moraes acompanhou o ministro\u00a0Ricardo\u00a0Lewandowski\u00a0na\u00a0diverg\u00eancia.\u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

Para\u00a0Paulo David Ferreira<\/a>, s\u00f3cio\u00a0do CCA,\u00a0esclarece que \u201cDiferentemente da evas\u00e3o, que importa em ato il\u00edcito para evitar o pagamento de tributos, a elis\u00e3o \u00e9 l\u00edcita. De fato, trata-se de um conceito aberto que se refere\u00a0\u00e0s alternativas de organiza\u00e7\u00e3o das atividades dos contribuintes que podem resultar em n\u00e3o ocorr\u00eancia de fatos geradores ou em ocorr\u00eancia de fatos geradores aos quais a lei determine incid\u00eancia tribut\u00e1ria menos gravosa.\u00a0Em outras palavras,\u00a0o planejamento tribut\u00e1rio\u00a0l\u00edcito envolve\u00a0a modelagem de neg\u00f3cios,\u00a0com a observ\u00e2ncia de todos os par\u00e2metros legais,\u00a0de forma que seja enquadrada nas hip\u00f3teses menos onerosas de tributa\u00e7\u00e3o.\u201d<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n

Avalia que\u00a0\u201cos votos\u00a0proferidos pelos ministros do STF no julgamento da ADI 2446, at\u00e9 o momento,\u00a0s\u00e3o bem fundamentados. Mesmo a ministra\u00a0C\u00e1rmen\u00a0L\u00facia, que reconhece a constitucionalidade do par\u00e1grafo \u00fanico do art. 116 do CTN, afirma que a sua aplica\u00e7\u00e3o depende da edi\u00e7\u00e3o de lei para a regulamenta\u00e7\u00e3o do procedimento de\u00a0desconsidera\u00e7\u00e3o de\u00a0atos praticados pelos contribuintes.\u00a0Se esse for o entendimento que prevalecer ao final do julgamento, a tend\u00eancia \u00e9 de refor\u00e7o da seguran\u00e7a jur\u00eddica, pois as autoridades fazend\u00e1rias n\u00e3o ter\u00e3o respaldo para\u00a0agir t\u00e3o somente com base na previs\u00e3o do CTN.\u00a0Esperamos\u00a0que\u00a0as\u00a0leis que vierem\u00a0a ser editadas\u00a0sobre o assunto\u00a0sejam rigorosas quanto \u00e0 garantia de contradit\u00f3rio e ampla defesa antes da imposi\u00e7\u00e3o de consequ\u00eancias mais graves.\u201d<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Foi\u00a0iniciado em\u00a015\/10\/2021,\u00a0o julgamento da\u00a0A\u00e7\u00e3o\u00a0Direta\u00a0de Inconstitucionalidade n\u00ba 2446\u00a0pelo Plen\u00e1rio do STF.\u00a0Por meio dessa ADI foi questionada a constitucionalidade do par\u00e1grafo \u00fanico […]","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[2],"tags":[],"acf":[],"yoast_head":"\nSTF julga norma\u00a0sobre planejamento tribut\u00e1rio\u00a0 - 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